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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"Importante é produzir nossos próprios filmes, mostrar o Brasil aos brasileiros que se interessam e curtir uma boa sessão de cinema."






PAJÉ FILMES é um Coletivo audiovisual indígena que atua em Minas Gerais/Brasil, desde 2008.


O pajé é detentor de uma "arte de dirigir sonhos". O cinema é ritual. A vocação para as imagens congrega técnica e magia. São da Pajé Filmes: Isael e Sueli Maxakali, Itamar Krenak, Ranisson e José dos Reis Xacriabá, Glaysson e Jaciara Caxixó, Charles Bicalho, Rafael Fares e Marcos Henrique Coelho.

Cinemaartes: Quais objetivos da III Mostra Pajé de Filmes Indígenas?
Pajé Filmes: O objetivo é dar continuidade à exibição de filmes indígenas, sejam aqueles de diretores indígenas, sejam aqueles cujos diretores não são indígenas em sentido restrito, mas que, de alguma maneira tenham usado suas lentes para retratar a realidade desses povos.
A Mostra Pajé sempre traz filmes de autores indígenas, como é o caso de Isael Maxakali, membro da Pajé Filmes, que apresenta quatro novos filmes na Mostra, um deles, “Kotkuphi”, já premiado em Recife.
A palavra “pajé” aqui tem um sentido mais amplo, se referindo não só aos pajés que vivem nas aldeias, mas também àqueles que, não necessariamente indígena, guardam certas características com aqueles das aldeias. Ou seja, o pajé é alguém que domina várias linguagens, a do canto, a narrativa de histórias, a coreografia, as imagens, e outros elementos que entram na realização de um ritual. Os pajés são os mestres dos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) visando nos levar a alcançar o sexto sentido, que se refere ao âmbito da espiritualidade.
De certa forma, quando dizemos que diretores não-índios são também, de alguma forma pajés, é porque eles se aproximam dos índios nessas características.
E no caso de filmes indígenas, é porque eles focam mesmo, colocam na tela, elementos ou imagens claras provenientes da cultura dos povos tradicionais, como atores indígenas, roteiros baseados em enredos das tradições literárias indígenas, ou contam histórias que tenham tido a participação fundamental de representantes desse povos.
É o caso dos diretores Werner Herzog, com dois filmes na Mostra Pajé, ou Joaquim Pedro de Andrade, cujo “Macunaíma” exibiremos. Ou ainda Nelson Pereira dos Santos com seu filme “Como era gostoso o meu francês”.
Outro objetivo da Mostra é o intercâmbio, seja com diretores indígenas de outros estados brasileiros, seja com diretores de outros países. Sendo assim exibiremos filmes da Bolívia, do Chile e do Equador bem como de cineastas indígenas providos pelo Vídeo nas Aldeias, projeto precursor aqui no Brasil.
Focamos também a diversidade formal, apresentando, sempre que possível gêneros cinematográficos que não só o documentário ou a ficção tradicionais. Sendo assim exibiremos “Tembiara” uma ficção animada de Jackson Abacatu, falada em Tupi, e “Ãgtux”, de Tânia Anaya, mescla de documentário com animação sobre os Maxakali, que contou com os próprios índios em sua produção.


Cinemaartes: Qual importância da III Mostra Pajé de Filmes Indígenas?
Pajé Filmes: A importância da Mostra Pajé é ser esse canal que possibilita a exibição de filmes, principalmente os de autores indígenas, que normalmente não têm a oportunidade de exibição em outros lugares.


Cinemaartes: Quais os principais desafios hoje para execução De uma Mostra de Filmes Indígenas?
Pajé Filmes: Um dos desafios ainda é o acesso às produções, devido ao relativo isolamento das aldeias e seus realizadores. Outra coisa é o desconhecimento dessa produção por parte da maioria das pessoas. Mas isso só faz mais necessária a existência de mostras desse tipo.
Mesmo assim, temos testemunhado o interesse genuíno de pessoas e de alguns veículos de comunicação que cedem espaço para a divulgação, veículos esses nem sempre especializados em audiovisual ou cultura indígena, como é o caso de vocês da Cine Artes, mas também jornais como o Estado de Minas, que divulgou a primeira Mostra Pajé em uma página inteira em 2009, ou o Jornal O Tempo, também aqui em Minas Gerais, que divulgou nossa programação para a segunda edição da Mostra no ano passado.


Cinemaartes: Qual conselho vocês dariam para que outros indígenas e/ou coletivos de cineastas indígenas organizem mostras de filmes indígenas em outras regiões do Brasil?
Pajé Filmes: Nosso conselho é realizar na medida do possível. Conseguir um local, o equipamento necessário, montar um acervo de filmes e exibir. A divulgação pode ser feita, em último caso, gratuitamente, através de blog, email ou redes sociais. O que mais vier é lucro. Importante é produzir nossos próprios filmes, mostrar o Brasil aos brasileiros que se interessam e curtir uma boa sessão de cinema.

Informações sobre nossas produções podem ser encontradas em nosso blog (www.paje-filmes.blogspot.com) ou em nosso perfil no Facebook (basta buscar por “Pajé Filmes”), ou também em nossa página no youtube (também basta buscar por “Pajé Filmes”). 



Para quem quer conhecer os filmes, além da Mostra Pajé de Filmes Indígenas, quem quiser ter nossos DVDs pode entrar em contato pelo email da Pajé (pajefilmes@gmail.com) e solicitar nosso catálogo. 
mais informações: blog: www.paje-filmes.blogspot.com

PROGRAMAÇÃO 

13/03 - terça 

Aguirre, a cólera dos deuses (Alemanha,1972, 95´), de Werner Herzog 
Em meados do século XVI, o conquistador espanhol Gonzalo Pizarro lidera uma expedição ao Peru, em busca de Eldorado, a mítica cidade de ouro. Um dos seus homens, Dom Lope de Aguirre (Klaus Kinski), consumido pela loucura, sonha em conquistar toda a América do Sul. Com um elenco de apoio de 270 indígenas e participação do cineasta brasileiro Ruy Guerra, Aguirre é uma jornada fascinante ao coração das trevas do ser humano. 

15/03 - quinta 

Ãgtux (Brasil, 2005, 22`), de Tânia Anaya 
Este filme foi preparado desde o início para fazer uso de animações, de imagens documentais e do som de forma muito específica e experimental. Afinal, não é um documentário, é no máximo algo que se aproxima do termo criado por Agnes Varda: ?documentário subjetivo?. O ponto de partida foi o universo estético dos Maxakali, donos de um notável refinamento plástico e sonoro revelados em desenhos, pinturas, roupas, cantos, poemas? 

Como era gostoso o meu francês (Brasil, 1970, 83`), de Nelson Pereira dos Santos 
No Brasil de 1594, um aventureiro francês prisioneiro dos Tupinambás escapa da morte graças aos seus conhecimentos de artilharia. Segundo a cultura Tupinambás, é preciso devorar o inimigo para adquirir todos os seus poderes, no caso saber utilizar a pólvora e os canhões. Enquanto aguarda ser executado, o francês aprende os hábitos dos Tupinambás e se une a uma índia e através dela toma conhecimento de um tesouro enterrado e decide fugir. A índia se recusa a segui-lo e após a batalha com a tribo inimiga, o chefe Cunhambebe marca a data da execução: o ritual antropofágico será parte das comemorações pela vitória. 

20/03 - terça 

El tio, Antonio (Brasil/Bolívia, 2010, 18`), de Paulo Maya 
Ensaio etnográfico em um único plano-sequência que se desenrola dentro da mina de prata Cerro Rico, na cidade andina de Potosí, na Bolívia. A ação se desenvolve a uns 100 metros debaixo da terra e diante a dois diabos, entre os mais de cem, que vivem dentro da montanha. Antonio desnuda a história dos índios de Potosí frente a colonização cristã e espanhola na região. A dimensão religiosa desse conflito é dissecada por uma apresentação do culto ancestral do diabo, também chamado de tío e outros nomes em Potosí. Culto decisivo, acima de tudo, como esclarece Antonio, ?porque o diabo é considerado amo da escuridão?. 

El grito de la selva (Bolívia, 2008, 97`), de Alejandro Noza (Moxeño), Nicolás Ipamo (Chiquitano), Ivan Sanjinés 
O filme narra acontecimentos baseados em histórias reais dos anos 1990 e 1996 no contexto da preparação da histórica marcha que os povos indígenas da Amazônia do Beni fizeram até a cidade de La Paz reivindicando por dignidade e território. Aborda o papel e a luta das comunidades e das mulheres indígenas defendendo seus direitos e sua terra. 

22/03 - quinta 

Fitzcarraldo (Alemanha/Peru, 1982, 157`), de Werner Herzog 
No final do século XIX, no apogeu do ciclo da borracha, o aventureiro Brian Sweeney Fitzgerald sonha em construir um teatro de ópera na Amazônia peruana. Para realizar seu sonho, leva centenas de índios a arrastarem um barco a vapor de 160 toneladas pelo coração da selva amazônica. Uma empreitada incrível em busca do impossível. Fitzcarraldo foi realizado no Brasil, com participação de Losé Lewgoy, Grande Otelo e Milton Nascimento. 

27/03 - terça 

Xupapoynãg (Brasil, 2011, 14`), de Isael Maxakali 
As lontras invadiram a aldeia para vingar a exploração e morte de seus parentes, caçados e devorados pelos humanos. Cabe às mulheres travar uma batalha para expulsar os invasores. 

Kotkuphi (Brasil, 2011, 24`), de Isael Maxakali 
A colheita, o preparo do alimento, o canto, e as demais atividades envolvidas na realização de um yãmîyxop, o ritual, em homenagem ao yãmîy ("espírito") da mandioca. 

Espelho Nativo (Brasil, 2009, 52`), de Philipi Bandeira 
Em Almofala, litoral norte do Ceará, os Tremembé lutam para afirmar sua contemporaneidade e assegurar os direitos reservados aos povos indígenas no Brasil. Por muitos anos, tiveram que se esconder para sobreviver à violência, ao extermínio e à invasão de suas terras tradicionais. Hoje, ao contrário, precisam mostrar quem são e reafirmar sua cultura. Entre lutas e encantamentos, um espelho se abre, e, para além do mero reflexo das imagens, projeta luz e reflexão. 

29/03 - quinta 

Macunaíma (Brasil, 1969, 108`), de Joaquim Pedro de Andrade 
Macunaíma é um anti-herói. Preguiçoso e sem nenhum caráter, ele nasceu na selva, e de negro (Grande Otelo) virou branco (Paulo José). Depois de adulto, deixa o sertão em companhia dos irmãos. Macunaíma vive várias aventuras na cidade, conhecendo e amando guerrilheiras e prostitutas, enfrentando vilões milionários, policiais e personagens de todos os tipos. Depois dessa longa e tumultuada aventura urbana, ele volta à selva. Baseado no clássico romance de Mário de Andrade, o filme é um compêndio de mitos e lendas. E é considerado um retrato da alma brasileira. 

03/04 - terça 

Tembiara (Brasil, 2011, 10?50`), de Jackson Abacatu 
Narrado na língua tupi, "Tembîara" traz a história de três caçadores, uma caça e um observador, em um lugar onde a ação pode se tornar inútil ante seu objetivo. 
Hans Staden (Brasil, 2000, 92?), de Luiz Alberto Pereira 

Hans Staden (Carlos Evelyn) é um imigrante alemão que naufragou no litoral de Santa Catarina. Dois anos depois, chegou a São Vicente, concentração da colônia portuguesa no Brasil, onde trabalhou por mais dois anos, visando juntar dinheiro para retornar à Europa. Staden tinha um escravo da tribo Carijó. Quando ele desaparece, Staden sai a sua procura. Acaba sendo capturado por índios Tupinambá, inimigos dos portugueses. Eles o prendem no intuito de matá-lo e devorá-lo. Staden fará de tudo para manter-se vivo. 

05/04 - quinta 

Segredos da mata (Brasil, 1998, 37`), de Dominique Tilkin Gallois, Vincent Carelli (Vídeo nas Aldeias) 
Quatro fábulas sobre monstros canibais narradas e interpretadas pelos índios Waiãpi da aldeia de Taitetuwa. "Fizemos o vídeo", dizem eles, "para alertar os incautos. Até um não índio pode ser devorado por estes monstros ao entrar na mata". 

Y el río sigue corriendo (México, 2010, 70´), de Carlos Pérez Rojas (Mixe) 
Desde 2003, o governo mexicano tenta construir a barragem da hidroelétrica de "La Parota", o que inundaria várias comunidades ao sul de Acapulco. Esse documentário retrata comunidades que resistiram a esse projeto, suas vidas, seus trabalhos, e seu amor pela terra. 

10/04 - terça 

Shomõtsi (Brasil, 2001, 42`) de Valdete Pinhanta (Ashaninka) (Vídeo nas Aldeias) 
Crônica do cotidiano de Shomõtsi, um Ashenika da fronteira do Brasil com o Perú. Professor e um dos videastas da aldeia, Valdete retrata o seu tio, turrão e divertido. 

El despojo (Chile, 2006, 70`), de Dauno Tótoro 
Documentário que expõe em múltiplas dimensões o processo de organização do povo mapuche ao longo dos últimos 120 anos. 

12/04 - quinta 

Yãmîy (Brasil, 2011, 15`), de Isael Maxakali 
Os yãmîys são os "espíritos" do panteão maxakali. Eles são vários; virtualmente infinitos. E todos se conectam por uma metamorfose que os faz passar de um a outro. Série, o yãmîy é um devir mutante. A sua sequência é uma das formas de que os tikmû?ûn (Maxakali) se servem para contar suas histórias. Neste filme Isael Maxakali nos apresenta alguns dos yãmîys, como a onça, o quati, o javali, etc. Está-se diante de uma espécie de inventário que comporta micro-narrativas. 

Mîmãnãm: mõgmõka xi xûnîn (Brasil, 2012, 17`), de Isael Maxakali 
O pajé Totó nos ensina sobre o mîmãnãm, o ?pau de religião? maxakali. Uma tronco de árvore pintada em homenagem ao yãmîy (espírito). Ele é fincado no pátio da aldeia, em frente à kuxex, a ?casa de religião?, para a realização do yãmîyxop, o ritual sagrado. Neste filme são apresentados o mîmãnãm do gavião (mõgmõka) e o do morcego (xûnîn). 

Qulqi chaleco / Vest made of money (Bolívia, 1999, 22`), de Patricio Luna (Aymara) 
Dramatização de um conto tradicional Aymara, que propõe uma reflexão sobre a ambição, a avareza e as consequências da acumulação. 

Tóxico Texaco Tóxico (Equador, 2007, 35`), de Pocho Alvarez 
?Chernobyl amazônico? é como alguns classificam o desastre da Texaco na Amazônia ao norte do Equador, ainda latente na terra e na alma dos yayas. 


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