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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

25a Mostra do Documentário Antropológico e Social

3,4 e 5 de setembro
Museu Etnográfico J.B. Ambrosetti
Rua Moreno 350-CIDADE AUTÓNOMA DE BUENOS AIRES.
Os esperamos!

 
Organização: Área de Meios Audiovisuais do Instituto Nacional de Antropologia e Pensamento Latino-Americano.

+INFOS: https://www.facebook.com/muestradocant?fref=photo

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

"A liberdade é possível?"....



Que vivam los crotos! (Argentina, 1990)

Um dia do ano de 1930, José Américo Ghezzi (Bepo), Picapedrero Anarquista, abandona o seu povo em Tandil e até 1955 não volta. Durante 25 anos caminha sem outro rumo que o traçado pelas vias da Estrada-de-Ferro, tituláveis ao silencioso mundo dos "Crotos " em que se encontra o "Francês", mestre da vida que o marcou para sempre. Em seu povo, seus amigos e uma mulher o esperam cozinhando as suas próprias vidas. 60 anos mais tarde, face a uma câmara, revivem suas maravilhas e visões do mundo em uma sorte de colagem de olhares e sonhos onde o primordial é a pergunta "a liberdade é possível?".


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   http://www.antrocine.blogspot.com.br/2013/04/somos-as-imagens-que-vemos.html    
http://www.antrocine.blogspot.com.br/2012/02/curta-o-carnaval-ou-nao.html

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Chamada para trabalhos: Aniki



Dossiê Temático: Outros Filmes
Prazo: 31 dezembro 2015
Editores: Sofia Sampaio, Raquel Schefer e Thaís Blank

Filmes utilitários, amadores, órfãos e efêmeros: repensando o cinema a partir dos ‘outros filmes’



Os estudos de cinema têm vindo a construir-se, em larga medida, em torno do filme de ficção, dentro de um paradigma predominantemente estético, autoral e nacional. Apesar de constituírem a maior parte da produção mundial, os filmes de não-ficção – uma categoria alargada, de metragem variada, que inclui gêneros tão díspares como o filme de viagem, o filme utilitário e ‘efêmero’ (industrial, turístico, educativo, publicitário), o filme de atualidades, o filme amador e doméstico e os chamados filmes 'órfãos' – têm sido sistematicamente marginalizados ou mesmo excluídos das várias histórias e historiografias do cinema, nacionais e internacionais.

Em Portugal, a importância desta vasta produção para a sobrevivência da indústria cinematográfica não a impediu de se tornar, na expressão de Paulo Cunha, num ‘cinema invisível’ (2014). As recentes melhorias no acesso a arquivos de imagem em movimento, bem como a crítica do paradigma estético dominante, a favor de abordagens ‘historicamente mais neutras’ (Stephen Bottomore, 2001), têm vindo a encorajar a investigação deste ‘território não-cartografado’ (Daan Hertogs e Nico de Klerk, 1997), resultando num aumento significativo de publicações nesta área.

Este dossiê temático da Aniki pretende reunir artigos que discutam, não apenas questões diretamente relacionadas com estes filmes –  como é que podem ser investigados e para quê; quais os problemas que suscitam em termos teóricos e metodológicos; como podem ser programados – mas também aspectos relacionados com o campo em si – nomeadamente, como é que a atenção a novos objetos de estudo poderá implicar novas formas de conceber o cinema e a sua história. Ou seja, como é que podemos repensar o cinema a partir dos ‘outros filmes’?

Contributos vindos de áreas como os estudos de cinema, os estudos culturais, a história, a sociologia e a antropologia serão bem vindos. Será dada prioridade a casos de estudo originais e bem fundamentados, provenientes de vários arquivos e cinematografias.

Os artigos recebidos serão sujeitos a um processo de seleção e de revisão cega por pares. Antes de submeter o seu artigo completo, consulte as Políticas de Secção e as Instruções para Autores.

Sofia Sampaio, Raquel Schefer e Thaís Blank coordenam, desde 2013, o grupo de trabalho ‘Outros Filmes’ da AIM.




Sofia Sampaio é Investigadora Auxiliar no Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), onde integra o grupo de investigação ‘Práticas e Políticas da Cultura’. Tem publicado em várias revistas científicas nacionais e internacionais, tais como: Textual PracticeJournal of Tourism and Cultural ChangeEtnográficaCadernos de Arte e AntropologiaLer HistóriaCulture Unbound: Journal of Current Cultural ResearchScope: An online Journal of Film and Television StudiesCinema: Journal of Philosophy and the Moving Image. Atualmente é Investigadora Principal do Projeto ‘Atrás da câmara: práticas de visualidade e mobilidade no filme turístico português’ (EXPL/IVC-ANT/1706/2013), financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES.

Raquel Schefer é investigadora, realizadora e programadora de cinema. Doutoranda em Estudos Cinematográficos na Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris 3, finaliza uma tese dedicada ao cinema revolucionário moçambicano. Mestre em Cinema Documental pela Universidade del Cine de Buenos Aires, publicou a sua tese de mestrado, “El Autorretrato en el Documental”, na Argentina, em 2008. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, é atualmente membro do comité editorial das revistas La Furia Umana e General Intellect. Publicou artigos em revistas nacionais e internacionais, tais como: Aniki; Cibertronic; Débordements; Imagofagía; La Clave; LaFuga; Kronos: Southern African Histories; Le Journal de la Triennale; Poiésis; Textos e Pretextos; Visaje, entre outras.

Thais Blank é investigadora, montadora e realizadora. Doutoranda em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (2011) em regime de cotutela com a Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. É mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ (2010). Possui graduação em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2007). Atualmente é supervisora do Núcleo de Audiovisual e Documentário do CPDOC/FGV. Possui artigos publicados em revistas nacionais e internacionais, tais como: Devires; Laika; Significação; Doc On-line; História da Mídia, entre outras.

+info: aim.org.pt/aniki/



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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Arquiteturas Film Festival Lisboa 2015



A 3ª edição do Arquitecturas Film Festival Lisboa, mostra internacional de filmes documentais, experimentais e de ficção sobre Arquitetura, irá decorrer de 1 e 4 de outubro, com o tema “Welcome to the Future”. Para além da habitual presença no Cinema City Alvalade e na Cinemateca Portuguesa, este ano o festival terá também como sede o Fórum Lisboa.

Esta 3ª edição pretende proporcionar uma incursão a diferentes visões do Futuro: desde “futuros” que se revelaram já obsoletos, àqueles que são até à data atemporais. Ambiciona-se ir além do razoável e procurar antevisões improváveis de novos mundos a ser, que possam ter tanto de extravagância e loucura, como de profecia, visão e perspicácia.

É com este olhar sobre o futuro que o realizador Edgar Pêra surge este ano como personalidade central do festival. Edgar Pêra, um dos mais prolíficos cineastas portugueses, realizou diversos filmes sobre arquitetura que primam por nos surpreender pela sua visão singular, inesperada e geradora de novas e renovadas interpretações. Da sua presença na programação deste ano, destacamos a sessão exclusivamente dedicada aos seus filmes em 3D e a Masterclass que o realizador irá apresentar sobre a relação do seu cinema com a arquitetura.


Arquitecturas Film Festival Lisboa estreia a 30 de setembro, no Fórum Lisboa, com o filme “99 Dom-ino” (2014), um projeto do coletivo Space Caviar. O centésimo aniversário do projeto Maison Dom-ino de Le Corbusier serve neste filme como pretexto para um inquérito à domesticidade italiana e a sua relação com a paisagem nos últimos 100 anos. Concebido para integrar a exposição “Monditalia” na 14ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza, “99 Dom-ino” é uma ideia original de Joseph Grima, membro dos Space Caviar e diretor artístico da Bienal de Arquitetura de Chicago 2015.

Esta 3ª edição conta com mais de 50 filmes em estreia nacional, 4 filmes em estreia europeia e 6 filmes em estreia mundial. Entre fevereiro e junho, o festival recebeu 159 produções de 39 países diferentes para integrar a competição, o que reflete uma vez mais que a interseção entre o cinema e arquitetura é alvo global de interesse e investigação.

Os filmes em competição serão avaliados e premiados dentro das respectivas categorias pelo seguinte júri: Catarina Alves Costa (Diretora, PT); Diogo Burnay (Arquiteto, PT); Manuel Henriques (Diretor da Trienal de Lisboa, PT); Nelson Dona (Diretor do Festival Amadora BD); Nick Dunn (Professor de desenho urbano, Lancaster University, GB); Nuno Cera (Artista, PT); Olívia Bina (Investigadora de Ciências Sociais, ICS-Ul, PT); Peter Bo Rappmund (Diretor, EUA).

À semelhança dos anos anteriores, os filmes premiados desta edição do festival integrarão o Circuito Itinerante e serão recebidos por instituições, festivais e faculdades em cidades várias, não só em Portugal mas um pouco por todo o mundo. Em edições anteriores, o Circuito Itinerante passou por Braga, Porto, Faro, Évora, Delft (Holanda) e Bradenburgo (Alemanha). Este ano prevemos estender o circuito nacional a São João da Madeira, Leiria, Coimbra e Açores e o internacional ao Brasil, Canadá e República Checa.
Cortesia de Arquitecturas Film Festival Lisboa
Para mais informações, acesse a página do Arquitecturas Film Festival.

Postagem relacionada: 

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Partilhando: Dossiê Antropologia do Cinema nas ruas

Partage: Dossier anthropologie du cinéma dans les rues; Sdílení: Dossier Antropologie Cinema v ulicích; Sharing: Dossier Anthropology of Cinema in den Straßen; Sharing: Dossier Anthropology of Cinema in the streets; Pínpín: Dossier gboyé ti cartoons ni igboro; Udostępnianie: Dossier Antropologia kina na ulicach; Deling: Dossier Antropologi af Cinema i gaderne; Compartir: Dossier Antropología de Cine en las callesỊkekọrịta: Dossier Anthropology nke Ụlọ Ngosi Onyonyo na n'okporo ámá; Bolella ba bang: Dossier Anthropology ea Cinema literateng; Berbagi: Dosir Antropologi dari Cinema di jalan-jalan; Condivisione: Dossier Antropologia del Cinema per le strade; Te faaiteraa: Dossier Anthropology o Cinema i roto i nga ara; Sharing: Sainchomhad Antraipeolaíocht na Cinema ar na sráideanna;  Споделување: Досие антропологија на кино на улиците; Κοινή χρήση: Φάκελος Ανθρωπολογίας του κινηματογράφου στους δρόμους; Ukwabelana: Idokodo elikhishwe Anthropology of Cinema ezitaladiniसाझेदारी: Dossier एन्थ्रोपोलोजी सिनेमा को सडकमा मा;  Sharing: досьє Антропологія кіно на вулицяхபகிர்வு: டோஸிர் மானிடவியல் சினிமா தெருக்களில், 分享电影档案人类学在街头, Nuduhake: buku Anthropology Cinema ing lurung-lurung; 共有中の映画館の一式文書人類学を; શેરિંગ: દસ્તાવેજો એન્થ્રોપોલોજી સિનેમા ની શેરીઓ માં; Sharing: досье Антропология кино на улицах; مشاركة: ملف العدد الأنثروبولوجيا السينما في الشوار

meus queridxs
O primeiro filhx do Grappa nasceu, o primeiro de muitxs...


Nosso dossiê está no ar...

Nesse outro link, é possível baixar uma cópia em PDF da revista completa:

Agradecemos a todxs que colaboraram.

Poeminha do Contra, Grupo de Estudos em Animação da FURG. (Brasil, 2009)

Mário Quintana, o poeta que, mais do que ninguém, soube ser passarinho!

Confiram aqui!!!

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Antropologia do Cinema em Montevideo, novo prazo até segunda-feira (9/08)

O prazo de envio de resumos para os Grupo de Trabalhos da Reunião de Antropologia do Mercosul, que acontecerá de 30/11 a 04/12 em Montevideu, foi prorrogado para 9 de agosto. As inscrições de propostas devem ser feitas via email para os coordenadores....

GT 15. Antropologia Audiovisual & Antropologia do Cinema: olhares cruzados e conexões possíveis

Este GT surge da necessidade de reunir pesquisadores latino-americanos que estudam as múltiplas relações entre Antropologia & Cinema, seja da perspectiva da Antropologia Audiovisual, seja da perspectiva da Antropologia do Cinema. Dando continuidade às discussões empreendidas no âmbito da 28ª/29ª RBA (2012/2014 - Brasil), III ALA (2012- Chile) da X RAM (2013 - Argentina), XI CAAS (Argentina), entre outros eventos, trata-se de debater o cinema como objeto antropológico em sentido próprio, focando especialmente: 1) as articulações entre cinema, narrativa, memória e subjetividade; 2) as representações e interpretações que as narrativas cinematográficas nos propõem sobre os mais diversos temas, como a relação "natureza-cultura", o estatuto do "humano/não humano", de "corpo", "gênero", “sexualidade”, "identidade", "ciência", "religião”, etc.; 3) as condições sociais de produção, circulação e recepção dessas narrativas em seus mais diferentes formatos e gêneros, considerando as diversas categorias que estruturam o campo cinematográfico. Em suma, em um mundo cada vez mais constituído por fluxos e contra fluxos de narrativas audiovisuais, trata-se não apenas de pensar os enunciados antropológicos de um cinema etnográfico, mas de empreender uma etnografia do cinema, entendida no âmbito de estudo sobre a contemporaneidade e os novos procedimentos de construção de sentido. Por outro lado, a antropologia audiovisual foi se constituindo com a contribuição de cineastas por várias décadas. Na América Latina, apesar de existir uma grande produção nesse campo, pouco se tem analisado os filmes etnográficos em relação aos aportes da linguagem cinematográfica para essas narrativas. Considerando a importância de discutir essas questões, propõe-se analisar produções audiovisuais que tenham utilizado, do ponto de vista teórico-metodológico, a antropologia audiovisual e/ou o cinema documental, focando os aportes, cruzamentos e tensões entre essas linguagens e a pesquisa antropológica.

Palavras-chave: Antropologia,; Cinema; Audiovisual; Imagem; Contemporaneidade.

Coordenadores:

Debora Breder. Doutora em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense/Brasil com Estágio Doutoral na École des Hautes Études en Sciences Sociales/Paris. Pesquisadora do Grupo de Análises de Políticas e Poéticas Audiovisuais (GRAPPA/UFFRJ) e Profª da UCAM/Brasil. deborabreder@hotmail.com

Francisco de La Peña Martínez. Doctor en Antropología Social y Etnología por la École des Hautes Études en Sciences Sociales/Paris. Profº da Escuela Nacional de Antropología e Historia/ENAH/México. paco61@prodigy.net.mx

Debatedor: Carlos Reyna. Professor Doutor de Cinema do IAD e de Antropologia Visual do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora. creynna@gmail.com


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Demarcação de terras indígenas, Já!

‘Brasil tem que encarar a demarcação de terras indígenas’, diz Lucia Murat
No final dos anos 90, Lucia Murat foi até o Mato Grosso do Sul rodar ‘Brava Gente Brasileira’, uma ficção que tinha como parte do elenco de apoio os Kadiwéu, comunidade indígena de conhecido espírito guerreiro, inclusive com papel de destaque na Guerra do Paraguai (1864-1870).
 
 Assista ao filme aqui!!!

Depois das filmagens, manteve contato com o povo de lá à distância, até 2009, quando voltou ao local. Ao presenciar a entrada da eletricidade e suas inevitáveis consequências, teve a ideia de fazer o documentário ‘A Nação Que Não Esperou Por Deus’, codirigido por Rodrigo Hinrichsen, que chega este mês aos cinemas, depois de passar pelo Festival É Tudo Verdade.

Ao montar sua equipe para o novo projeto e começar a viabilizá-lo, foi surpreendida pela eclosão da disputa pela retomada de terras, com os Kadiwéus querendo de volta o espaço que foi invadido pelos pecuaristas da região. A questão ocupa boa parte do filme, principalmente no final, quando vemos uma negociação delicada entre os dois grupos, conduzida pelo líder indígena Ademir – que, após o filme, foi assassinado por outro Kadiwéu, devido a uma disputa de poder interna.

Durante as filmagens, a cineasta teve acesso ao Relatório Figueiredo, tema do vídeo exclusivo de making of, disponível abaixo, e sobre o qual comentou posteriormente: “Nós já tínhamos voltado da primeira fase de filmagem quando tive acesso ao Relatório Figueiredo. Primeiro, soube que das 7 mil páginas, algumas tratavam da questão das terras Kadiwéu. A partir daí, conseguimos a íntegra das 7 mil paginas e dividimos entre a equipe da produtora para podermos rastrear tudo que o relatório continha sobre os Kadiwéu. Terminamos esse trabalho poucos dias antes de voltarmos para a segunda fase das filmagens”.

“Foi chocante descobrir a forma como os fazendeiros entraram na reserva, e com a ajuda do SPI (Serviço de Proteção aos Índios). Essa descoberta foi fundamental pois nos permitiu encerrar o filme mostrando como a invasão das terras tinha começado”, completa.

O Relatório Figueiredo | Making Of: [https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_8F_oR-zIzI]

O documentário trata também de questões como o avanço da igreja evangélica entre os índios, sempre mais preocupado em apresentar o painel da região e evitando juízos de valor.

Sobre essa volta ao território que havia explorado antes, a situação dos Kadiwéu hoje e o processo de distribuição de ‘A Nação Que Não Esperou Por Deus’, Lucia Murat falou ao TelaTela:

TelaTela – Depois dessa imersão, qual é sua visão sobre a questão indígena no Brasil?

Lucia Murat – Acho que a questão fundamental é a questão da terra. Essa sim é a questão que o Brasil tem que encarar, a demarcação das terras indígenas. Acho que a partir desse ponto eles vão ter condições de definir as vidas deles. A gente, enquanto País, deve às comunidades indígenas e tem que realizar.

De que forma você acha que as realidades do homem branco e da comunidade indígena podem coexistir?

Existe uma possibilidade de comunhão. Existe na medida em que, por exemplo, eu sou branca e fiz dois filmes sobre eles sem nunca fingir que eu não era branca, nunca fingi que não era estrangeira àquela realidade. Foram dois filmes feitos com muito carinho e com muita tentativa de eu abrir meu coração, abrir minha cabeça, para aquela realidade. Por mais que seja uma visão “de branco”, não vou dizer que não é.

Eu fiz um documentário muito tempo atrás chamado ‘O Olhar do Estrangeiro’, que era basicamente sobre os clichês da indústria cinematográfica sobre o Brasil. Da mesma forma que eu acho que diretores como Orson Welles vêm ao Brasil e são estrangeiros, têm o olhar de fora, mas eles querem vivenciar aquilo de uma outra maneira, eu tentei vivenciar com carinho e me abrindo ao máximo para aquela cultura. E nesse sentido acho que consegui ter uma integração. Agora, é óbvio que você tem todos os outros aspectos negativos que estão no documentário.

Inclusive essa presença da Igreja Evangélica, uma questão que é sugerida no filme, mas não de um jeito pesado.

Não, porque eu não acho que seja fundamental, nem que isso não possa retroagir. Por exemplo, várias daquelas pessoas que estavam na cena da “luta” com os pecuaristas são evangélicas. Praticamente todos eles [os Kadiwéu] são. O que não significa que eles são fundamentalistas.

Eles são evangélicos um pouco como o Ademir me disse uma vez: “Eu sou por agradecimento”. Porque a primeira igreja evangélica que chegou lá funcionou um pouco naquilo que a Funai não fazia. Fornecia medicamentos, assistência médica. Isso não significa para mim que eles sejam evangélicos totalmente fundamentalistas. Ele [Ademir] fudamentalmente era uma liderança indígena no processo da retomada. Então não vou considerar que ele era uma evangélico. Para mim, ele era uma liderança indígena.

Você acha que a igreja soube aproveitar essa carência e se fortalecer em cima disso?

Tranquilamente. Acho que a igreja evangélica entra no espaço do poder público. À medida que esse espaço for ocupado pelos próprios índios, que eles consigam continuar nesse processo de retomada de suas terras e de redescoberta da história, eu acho que isso pode ser regredido. Por isso não coloquei de um jeito pesado.
luciamurat
Num momento do filme é mostrado um índio pintando o rosto e falando da importância de fazer este ritual antes de ir para a guerra. Depois, mais para frente, o Ademir, líder da comunidade, está de cara pintada no centro de uma discussão entre os Kadiwéu e os pecuaristas locais. Eles então já têm consciência que a guerra hoje saiu do campo físico e partiu para o campo político?
Sim, têm muita consciência disso. Eu me lembro que uma das fazendeiras chegou lá e disse “eu fiquei arrasada que eu cheguei aqui e o Ademir estava pintado”. E ele fez isso como manifestação mesmo, apesar de que no tempo todo na reunião ele tem uma capacidade de negociação e de diálogo incrível, no bom sentido. Ele sabe que é necessário negociar, e faz isso muito bem.

O filme terá uma distribuição alternativa, além do circuito comercial. Por que esta escolha?

Hoje o circuito comercial está muito fechado para qualquer filme que trabalhe fora do ‘entertainment’, seja documentário ou ficção. Então a gente quer criar circuitos alternativos, onde esses filmes e essas discussões possam ser feitas. A gente tá se aliando à Taturana Mobilização Social, por exemplo, e estamos fornecendo o filme com essa intenção, de mobilizar socialmente as pessoas e usando o filme para discussão.

Trailer do filme: [https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=apacmABN8x0]