Lauro Zavala
Presidente de Sepancine
¿Quais recursos formais e estruturais
produzem o efeito emocional que experimenta o espectador ao ver um filme? ¿Qual
é a natureza estética do cinema? ¿O que distingue uma narração audiovisual de
uma literária? ¿Qual utilidade social têm a alfabetização audiovisual desde a
educação básica? ¿Como utilizar os recursos audiovisuais para apoiar o ensino
de qualquer disciplina universitária?
Estas e muitas outras perguntas similares podem ser respondidas ao se estudar a linguagem cinematográfica. A disciplina que estuda este linguagem é a teoria do cinema. E ainda que em todos os países da América Latina exista uma importante tradição de crítica cinematográfica (que é uma forma especializada de jornalismo), sem dúvida ainda não existe nenhum programa de pós-graduação dedicado à formação de pesquisadores em teoria e análise cinematográfica (que não deve confundir-se com a crítica de cinema)[i]. Estes programas de pós-graduação seriam similares aos de outras disciplinas humanísticas (em literatura, filosofia, musica ou arquitetura), e seu objetivo não seria formar diretores, roteiristas ou críticos, senão pesquisadores da linguagem cinematográfica.
Ao mesmo tempo, na região latino-americana existem numerosas escolas de cinema. No México destaca-se o CCC (Centro de Capacitação Cinematográfica), que desde 2011 outorga o grau de licenciatura, e o CUEC (Centro Universitário de Estudos Cinematográficos). Este último pertence a prestigiosa UNAM (Universidade Nacional Autônoma de México) e neste 2012 completa 50 anos, o qual será celebrado ao outorgar o grau de licenciatura a seus egressos (com o qual deixará de ser um Centro para adquirir o estatuto de uma Escola). Ainda que estas escolas não estejam orientadas a formação de pesquisadores, senão de diretores e roteiristas, temos a impressão que em eum futuro próximo a UNAM tomará a iniciativa de criar o primeiro programa de pós-graduação em análises cinematográfico na América Latina.
Em contraste, a Associação de Estudos sobre Cine e
Meios (SCMS), nos Estados Unidos, conta com mais de 5,000 investigadores em
teoria e análise cinematográfica, e realiza cada ano um congresso ao que frequentam
mais de 1,500 estudiosos, os quais publicam pouco mais de 500 livros
especializados anualmente. Na Espanha, além de contar com numerosos programas
de pós graduação, foram publicados já mais de 50 títulos da série Ver e Analisar
Filmes, dedicados a análise de películas do cânion cinematográfico, como uma
iniciativa surgida na Universidade de Valencia.
Frente a esta situação, nos últimos 3 anos
tem surgido várias redes de pesquisadores de teoria e análise cinematográfico na
Argentina, Colômbia e México, os quais por sua vez tem organizado seminários de
discussão e congressos de investigadores. Deste trabalho colegiado tem se
derivado a realização de cursos em todos os níveis, a criação de séries de
televisão educativa, a produção de discos interativos de caráter didático
e a publicação de livros coletivos. Um antecedente importante destas
iniciativas é a existência no Brasil de uma Associação de pesquisadores
de cinema (Socine), criada em 1994.
Em 2009 foi criada a Associação Argentina de
Estudos de Cinema e Audiovisual (Asaeca), que já organizou um par de congressos
e publica periodicamente a revista especializada Imagofagia. Nesse mesmo ano se
criou a Associação Mexicana de Teoria e Análise Cinematográfica (Sepancine, que
toma seu nome do Seminário Permanente de Análise Cinematográfica), a qual
organizou sete congressos e tem publicado vários livros coletivos e números
monográficos de diversas revistas culturais e universitárias. Seu sítio (www.sepancine.mx) contêm livros completos de acesso gratuito, assim como cursos,
artigos, bibliografias e muitos outros materiais para o ensino da análise.
Também em 2009 foi fundada na cidade de Morelia (no
México) uma pós-graduação em Teoria e Crítica de Cinema, de caráter privado. Em
2010 foi criada a Redic (Rede de Investigadores de Cine) com sede na
Universidade de Guadalajara, que reúne um grupo de pesquisadores da Argentina,
Espanha, Estados Unidos, França e México. E em 2011 se criou na Argentina uma
Rede Universitária Latino-americana de Artes, orientada aos estudos
cinematográficos.
Em 2010 foi realizado em Bogotá um Encontro
Latino-americano de Pesquisadores de Cinema, orientado ao estudo da
epistemologia da investigação cinematográfica. As atas deste congresso estão
por aparecer neste 2012. Esta iniciativa é muito notável porque além de ter
surgido no Instituto de Pesquisas Estéticas da Universidade Nacional da
Colômbia, também conta com o apoio logístico do Departamento de Cinematografia
Por último, é necessário mencionar a realização
em 2011 de dois congressos acadêmicos orientados a análise cinematográfica, com
sede no México. Em Tijuana, O Colégio da Fronteira Norte (Colef) e a
Universidade Autônoma da Baixa Califórnia (UABC) criaram o Facine (Fórum
Internacional de Análise Cinematográfica). Mas sem dúvida, a iniciativa mais
notável é a que surgiu na pós-graduação em História da Arte da Universidade
Nacional Autônoma do México, onde os estudantes criaram um CUAC (Congresso
Universitário de Análise Cinematográfica), além de uma revista digital de pequisas,
Montajes, cujo primeiro número está em preparação.
Todas estas
iniciativas levadas adiante por pesquisadores e estudantes de pós-graduação na Argentina, Brasil, Colômbia e México estão criando uma tradição na
disciplina, estabelecendo assim um precedente acadêmico para a possível criação de um Instituto de Pesquisas em Teoria e Análise Cinematográfica e Audiovisual (IITACA) na região latino-americana. Sua criação poderia ser paralela a criação de acervos públicos de acesso gratuito (similares ao atual
sistema público de bibliotecas), onde os espectadores poderiam conhecer o
mais importante da produção cinematográfica da região e do resto do mundo.
Tudo isso demonstra que também a cinefilia pode converter-se em uma profissão especializada, como já ocorre em outros campos da produção cultural.
Livre Tradução: Grupo Nove
[i] Sendo
que o autor considera a América Latina de língua hispânica, excluindo o Brasil.
Artigos relacionados:
Postagem relacionada:
Cinemargentino, para ver filmes online e de graça
ResponderExcluirJá está no ar a plataforma online Cinemargentino (http://www.cinemargentino.com/), onde os fãs da cinematografia mais badalada da região (pelo menos até hoje, contabilizando prêmios e elogios) podem assistir gratuitamente uma série de longas-metragens que estrearam antes em festivais em salas comerciais.
O debut da iniciativa foi com 8 títulos, incluindo a ficção “Aballay” (2010), de Fernando Spiner, e o documentário “Yo, Natalia” (2009), de Guillermina Pico. Mas, anuciam os organizadores, “essa é só a ponta do iceberg”, já que o conteúdo será amplamente extendido nos próximos meses. Entre os planos para o futuro, está incluir estreias inéditas no cardápio do site.
“Hoje em dia os modos de consumo audiovisual estão apontando para a internet, e queremos que isso seja uma vantagem para o cinema argentino, que tão pouca difusão tem. Não estamos falando de filmes que são sucessos comerciais, como ‘Dos más dos’, mas de cinema independente. Existem várias plataformas de VOD ou de streaming gratuitas, inclusive de filmes independentes, mas nenhuma especificamente é de cinema nacional”, explica Rita Falcón, uma das integrantes da equipe de jovens profissionais por trás do Cinemargentino.
Neste momento, a plataforma está recebendo material para incrementar sua oferta. Produtores ou realizadores interessados em apresentar seus filmes podem entrar em contato através do email: info@cinemargentino.com.