A Guerra Civil Espanhola
(1936-1939) através dos Filmes.
Gritos de No Pasarán! ecoavam pelas ruas da Espanha republicana, em meio a coletividades
operárias que em suas barricadas empunhavam armas para combater o golpe de estado
fascista, situação esta, que redundaria um extenso conflito entre os anos de
1936 e 1939. Reportando-se à Guerra Civil Espanhola (na qual lutou), o escritor
inglês George Orwell pontuou: "a espinha dorsal da resistência a Franco
foi a classe operária espanhola, especialmente os membros dos sindicatos
urbanos" (Recordando a Guerra
Espanhola, Lisboa: Antígona, 1984. p.37). Entre estes podemos destacar a
atuação dos anarquistas e suas respectivas organizações sindicais: CNT (Confederación
Nacional del Trabajo) e FAI (Federación Anarquista Ibérica), que
através de diversas práticas libertárias levadas a cabo no transcurso da guerra
civil, tais como a coletivização de terras, possibilitaram um "curto verão
da anarquia".
A Guerra Civil
Espanhola acendia os desejos de Revolução Social entre segmentos das classes
operárias. E nesta senda, os anarquistas, encontravam no cinema uma importante
ferramenta de propaganda e ação. Um exemplo é o filme Un Pueblo en Armas
(Espanha, 1937), documentário dirigido por Juan Pallejá e Louis Frank, e
produzido em 1937 em meio a Guerra Civil Espanhola, pelo S.I.E. film (Sindicato de la Industria del Espectáculo, de Barcelona, ligada a
CNT), destinado a ser exibido no circuito internacional, sobretudo nos EUA, com
o objetivo de angariar apoio a causa antifascista. Além disso, a CNT socializou
a indústria do cinema na Espanha (nominada de industria del
espectáculo), possibilitando a autogestão deste setor pelos trabalhadores, numa
iniciativa inédita de produções coletivas em que a hierarquia dos papéis tradicionais
atrelados ao processo de produção cinematográfica foram revistos. Por sua vez,
investindo em diversos gêneros (dramas, comédias, documentários) impulsionaram
a produção de uma gama diversa de filmes, entre os quais o já referido Un
Pueblo en Armas. Situações estas que moveram a realização em 2010 do
documentário El Cine Libertario: cuando las películas hacen historia, dirigido
por José María Almela e Veronica Vigil.
Passado de lutas este,
que após décadas ganhava através do cinema forma vívida. Como demonstra a
produção cinematográfica de José Luis Cuerda, ambientada no cenário espanhol
pré-guerra civil, intitulada A Língua das Mariposas (La Lengua de las
Mariposas, 1999), que nos traz um professor e sua prática libertária. Por
sua vez, outras produções merecem destaque, tais como: Libertárias (Libertarias,
1996) de Vicente Aranda, que aborda a atuação anarquista (focado na organização
anarco-feminista Mujeres Libres) nas
frentes antifascistas; Terra e Liberdade (Land and Freedom, 1995)
de Ken Loach, centrado na participação revolucionária do P.O.U.M. (Partido Obrero de Unificación Marxista),
e que se baseia na experiência do escritor George Orwell, que compôs as
brigadas internacionais; Soldados de Salamina (2003) de David Trueba,
que se reporta aos últimos dias da Guerra Civil Espanhola (inspirado na obra
homônima de Javier Carcas); Ay, Carmela!
(1990) de Carlos Saura que narra a jornada de uma Cia de teatro aprisionada
pelas tropas franquistas; e O Labirinto do Fauno (El Laberinto del
Fauno, 2006) de Guillermo del Toro que partindo do imaginário infantil (da
personagem Ofélia), nos leva a uma viagem a Espanha dos anos 40, evidenciando
grupos de milicianos antifascistas que após o fim da guerra civil, se
mantiveram embrenhados nas montanhas levando a diante a resistência contra a
ditadura de Franco.
Cena do filme Libertárias
Também nos anos 90 Juan Gamero levou as telas o
documentário Vivir la Utopia (1997), tratando das experiências
anarco-sindicalistas e anarco-comunistas realizadas durante a Guerra Civil
Espanhola, e reavivadas através dos relatos de militantes libertários
sobreviventes do conflito.
E se por um lado
à revolução pelas armas fracassou, por outro a história daqueles que
acreditaram um dia poder mudar o mundo, ainda gravita, quer seja através de uma
tela de cinema ou em utopias do dia-a-dia, pois a vida urge...
Cleber Rudy
Historiador e cinéfilo
*Agradeço ao companheiro Juliano Gonçalves da Silva pelas contribuições.
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