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domingo, 26 de maio de 2013

Cultura Popular Nordestina na tela


Chico Liberato e o desenho animado do sertão


Em tempos de cultura digital e global e filmes movidos a inovação tecnológica, Chico Liberato lançou este ano, aos 76 anos, seu novo longa de desenho animado inspirado em uma lenda tradicional da cultura nordestina. Para aqueles que nunca ouviram falar desse grande artista brasileiro, eu tenho o prazer de lhes apresentar uma pequena introdução à sua obra.

Cena do curta metragem “Alexandrino”
Nascido em 1936 em Salvador da Bahia, Francisco Liberato de Mattos aprendeu a pintar sozinho aos 10 anos. Pintura e gravura foram suas primeiras formas de expressao artistica. No seu traço, o colorido e a vivacidade da arte popular. Como tema, a natureza, o folclore, a literatura de cordel e a maior inspiração de outros tantos grandes nomes da arte brasileira – o sertão. Em todos os seus trabalhos, Chico usa e faz defender a linguagem da arte popular e tradicional da Bahia. Suas obras já foram expostas em exposições coletivas e mostras individuais no Brasil e pelo mundo.
Um artista multimídia, ainda que a palavra venha sendo tão mal utilizada, é um aposto que realmente define Chico Liberato. Começando com pintura, desenho, escultura, seu trabalho mais prestigiado é no cinema. Com o desenho animado, Chico ganhou reconhecimento internacional e produziu um trabalho único voltado para a identidade cultural brasileira. Seu primeiro curta metragem é de 1973 e chama-se Ementário. Sempre de produção independente, Chico Liberato lançou na sequência outras 7 animações de curta metragem, até 1985 quando lançou sua grande obra prima, o longa Boi Aruá. Uma preciosidade na historia do cinema brasileiro, foi o primeiro desenho animado nordestino lançado, e um dos cinco primeiros no Brasil. O filme conta a lenda popular do Boi Aruá, e fez parte de uma longa pesquisa sobre a cultura popular do Nordeste. Tendo como referência no estilo de desenho e na prosa a Literatura de Cordel, o filme expressa a riqueza cultural do povo simples, a fé, determinação e fraternidade  para se  vencer as dificuldades da vida no agreste. Na dublagem, foram  utilizadas falas de vaqueiros e sertanejos da região de Monte Santo, vizinha de Canudos. O filme foi pioneiro no Brasil em combinar o audiovisual – a linguagem do desenho animado – com a cultura popular, e capta com inocência e muita beleza a identidade do povo brasileiro. Laureada em festivais no Brasil e exibida internacionalmente, a produção levou um prêmio especial da Unesco, “Referência de Valores Culturais para a Infância e Juventude”.

Cena de Boi Aruá

No seu traço, o colorido e a vivacidade da arte popular. Como tema, a natureza, o folclore, a literature de cordel e a maior inspiração de outros tantos grandes nomes da arte brasileira – o sertão.
Depois de Boi Aruá, Chico Liberato lançou outros 3 curtas metragens no final dos anos 80 e anos 90, assim como tantos outros cineastas, tentando sobreviver num período negro para o cinema brasileiro, quando as verbas eram quase inexistentes. Conciliando a diretoria do Museu de Arte Moderna da Bahia ate 1990, continua pintando, e esculpindo. Sempre entre os maiores nomes da arte nacional, Chico tomou como meta criar um pólo de produção de desenho animado na Bahia. Sua filha Cândida criou Liberato Produções, estúdio que produziu o último longa metragem de Chico, Ritos de Passagem, lancado este ano no festival Anima Mundi no Rio de Janeiro. O filme segue o imaginário das sagas heróicas de Gil Vicente, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha e conta a história do Santo e do Guerreiro no sertão nordestino. Uma reflexao sobre nascimento, batismo, transição da juventude para a idade adulta, morte e transcendência; o filme tambem possui rica e criativa linguagem visual, além da belíssima trilha sonora. Um trabalho produzido com cuidado e extremamente poético, este filme de Chico está entrando no circuito de festivais de cinema.
Altamente recomendável para todos os artistas, espero que a obra de Chico traga inspiração e influencie a estar sempre buscando produzir, evoluir nas formas de expressão artística sem esquecer as tradições e raízes.

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