"Aqui jaz um desconhecido assassinado por um desconhecido."
Breve Resenha do filme O enigma de Kaspar Hauser, 1974
No fim do ano passado, durante uma aula de línguistica, ouvi pela primeira vez o nome Kaspar Hauser, e de cara me encantei! A professora nos apresentou o filme alemão “O enigma de Kaspar Hauser”, dirigido por Werner Herzog, do ano de 1974, e apesar de achar o começo (depois percebi que está sensação percorreu o filme todo) um pouco “pesado”, no sentido de dar voltas e ser monótono, a história é íncrivel, e nos faz refletir sobre muitas questões. É um prato cheio para qualquer estudante de Letras, ou ainda, curiosos de plantão.O filme “O enigma de Kaspar Hauser” nos faz refletir sobre questões como a aquisição da linguagem e se esta aquisição estaria ligada com as experiências vividas no “mundo físico”, além de outras questões interessantes como até que ponto a linguagem é capaz de alcançar o pensamento?
Kaspar Hauser é um rapaz que vive há anos trancado em um quarto escuro, ele jamais saiu de lá, e jamais teve algum tipo de contato social. Por conta destas condições, Kaspar além de não falar também não possui parte de suas funções motoras.
A partir daí podemos compreender o quanto, não somente o convívio social, mas também experiências simples que vivenciamos desde pequenos em nosso dia a dia, contribuem para o processo de assimilação e assim, desenvolvimento da fala.
Mesmo Kaspar saindo da clausura e passando a conviver em sociedade, para ele, nada faz sentido. Para ele, seu quarto é maior que a torre, apenas porque ao se virar, de todos os ângulos, ele ainda pode ver as paredes, já a torre, ao se virar, ela “desaparece”.
Outro ponto importante é a questão de como o medo pode ser algo criado, e não um evento natural. Kaspar é atraído por uma vela, mas, após se queimar, aprende que a o fogo machuca e passa a ter medo.
Contudo, observamos que mesmo aprendendo a falar e escrever, Kaspar não compreende os signos. Quando nós falamos a palavra cadeira, por exemplo, automaticamente nos vem à cabeça a imagem de uma cadeira, mas para Kaspar isso era impossível, uma vez que ele jamais viu uma cadeira, o que reforça a importância do processo de assimilação, que nada mais é do que um processo cognitivo, que consiste em classificar novos eventos com base em esquemas já existentes.
Algumas curiosidades sobre o filme
- Para o papel principal, Werner Herzog convidou um ator que segundo boatos, permaneceu por opção Anônimo, e assim, foi “apelidado” de Bruno S. pelo próprio diretor e equipe;
- O ator principal passou por diversos problemas de ordem psicológica, tendo sido abandonado pela própria mãe, além de “internado” em uma casa de correção por mais de 20 anos;
- O filme é baseado em fatos reais, e o personagem Kaspar de fato existiu ; assim como no filme, o garoto solitário e “sem fala” teria sido encontrado ano de 1828 em Nuremberg;
- Segundo algumas teorias, Kasper seria na verdade filho do príncipe Charles de Bade e de Stephanie de Beauharnais, uma sobrinha de Joséphine de Beauharnais, casados por ordem de Napoleão;
- Kasper teria sido roubado de sua mãe, pois assim, a herança da coroa pasaria para uma nova linhagem;
- Além do ótimo filme, também existe um livro chamado “Kasper Hauser ou a fabricação da realidade”, de Izidoro Blikstein, da editora Cultrix.
O ENIGMA DE KASPAR HAUSER (1812?-1833): UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIAL
Maria Clara Lopes Saboya1
Fundação Instituto Tecnológico de Osasco
Fundação Instituto Tecnológico de Osasco
A
partir de uma abordagem histórico-cultural em Psicologia, este
trabalho analisa o percurso de desenvolvimento de Kaspar Hauser, um
personagem real e enigmático que, quando encontrado em Nuremberg, em
1928, com supostamente 15 anos, não sabia falar, nem andar e não se
comportava como humano. Até hoje o seu enigma persiste: apesar de
muitas hipóteses e suspeitas, não se descobriu sua origem. Apoiando-se
em estudos de Vygotsky e Luria, que indicam que a percepção depende,
sobretudo, da práxis social, necessária para gestar o referencial
cultural de apreensão da realidade, a autora analisa como se articulam
linguagem e pensamento no desenvolvimento cognitivo de Kaspar Hauser e
como ele concebe o mundo que o cerca, tendo sido privado dos filtros
e estereótipos culturais que condicionam a percepção e o
conhecimento. Continue a lendo em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-65642001000200007&script=sci_arttext
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