O período de alienação e propaganda eleitoral para a escolha de prefeitos e vereadores em todo o Brasil já começou. Programas, slogans e discursos já estão sendo bombardeados em todo o País oferecendo o "paraíso". Vote X e terá transporte gratuito. Vote Y e terá saúde. Vote W e os impostos diminuirão. Etc. Etc. Etc. O/as anarquistas recusam-se a fornecer tais cantinelas, a cair no mero jogo de palavras, do charlatanismo político. Além de uma desonestidade, ele/as acreditam que ninguém tem a solução na manga para resolver todos os problemas da sociedade. No filme Existe Política Além do Voto?, os autores nos chamam à reflexão crítica sobre o estrume eleitoral. A ANA teve uma conversa rápida com um dos realizadores. Leia a seguir...
Agência de Notícias Anarquistas > Sobre
o filme de vocês "Existe Política Além do Voto?", falem um pouco a
respeito, do que se trata, quais os objetivos de produzi-lo...
Juliano Gonçalves da Silva < O
Existe Política Além do Voto? busca responder uma dúvida existencial:
será que tudo que existe é sagrado e não deve ser mudado ou revisto
justamente por ter sido sempre assim ou pelo contrário tudo deve ser
dito, rediscutido e desconstruído pra estruturação de uma melhor vida
social coletiva? Os objetivos foram o de utilizar as novas técnicas da
comunicação a favor da Anarquia, propiciando uma ferramenta de inserção
social e um diálogo mais fluído com o povo, na medida em que grande
parte da população brasileira é analfabeta, e por outro lado tem uma
alfabetização visual (graças até a rede Bobo
e seu padrão de "qualidade") e cultura oral de ampla tradição. Além
disso, a produção do documentário visava conformar mais um dos diversos
materiais que coletivamente produzimos nas ultimas eleições pelo Comitê
Agora é Luta!, composto entre outros pelo grupo Rusga Libertária para a
campanha: Não vote, Anule, Lute! Que incluía panfletos, cartazes,
pixações-graffitagem, artigos em jornais, debates, camisetas e santinhos em Cuiabá/Mato Grosso/Pindorama Ocupada.
ANA > E o que motivou vocês a fazerem o filme?
Juliano <
A visão de que arte tem uma função na sociedade e que esta pode ser
inclusive a de questionar os elementos sagrados da própria sociedade. Eu
particularmente estava com o lema de uma idéia na cabeça e uma câmera
na mão, além do compromisso e engajamento do cinema com a transformação
da sociedade. Isto junto com o a crítica a institucionalização estatal
cinemanovista no Brasil e os elementos sarcásticos e anárquicos do
cinema marginal cujo lema é se não pode mudar, então vamos avacalhar.
Cabe ressaltar que fazer cinema no Brasil é algo muito difícil e fazer
cinema sem dinheiro público e autonomamente então nem se diga. Os
grupinhos que ficam atrás da grana pública são muito fechados e
mancomunados com os poderes e poderosos. Ainda não temos uma filmografia
anarquista constituída no Brasil, que me venha à cabeça temos os já
clássicos: Os Libertários do Eduardo Escorel, O Pão Negro e Os episódios
da Colônia Cecília, além de documentários sociais recentes,
diferentemente do cinema mundial como já foi sistematizado no
excepcional livro ainda inédito em português: Cine e Anarquismo – La
utopia anarquista en imágenes, de Richard Porton.
ANA > Quanto tempo levou para produzir o vídeo? É um vídeo no estilo "faça você mesmo"?
Juliano < Pra
fazer o filme foi jogo rápido, creio que um mês, sob a pressão da
campanha que tocávamos paralelamente com diversos compas. Sim, façamos
nós mesmos coletivamente, queríamos desconstruir a idéia autoral
tradicional e a ilusão da montagem, diminuindo a quase zero efeitos e
trucagens, por isso só usamos cortes secos. O exemplo da produção
coletiva dos filiados ao Sindicato de Cinema ligado a CNT da Espanha,
que recentemente circulou o Brasil (que, aliás, tá na mão pra
disseminarmos), da Mostra de Cinema Anarquista produzido durante a
Guerra Civil Espanhola nos guiou. E as brincadeiras que fizemos no filme
como a dessincronização (a lá Tri-min-há) entre sons e imagens
denunciam este engodo. Enfim, já basta de cortes molhados melodramáticos
e do domínio da edição nos filmes, lembremos que existe cinema também
além de Róliiude e nós fazemos o melhor cinema brasileiro do mundo.
ANA > Alguma curiosidade ou dificuldade enfrentada ao fazê-lo?
Juliano < A
desconfiança de dar depoimentos discordantes que vão contra o consenso
fabricado como diria Chomsky é hoje cada vez maior, a câmera intimida
mais que aproxima, o medo reina na sociedade, mas em finais de 2006 a
roubalheira e a indignação era tanta que conseguimos registrá-la no
filme. Isso dificulta a integração antagonista, mas é um reflexo da
apatia generalizada da sociedade. Há momentos do filme em que nos
deparamos com a precariedade como no microfone que tem que ser operado
pelo entrevistador, ao mesmo tempo, que faz as perguntas e tem que estar
quase dentro do entrevistado em função da inexistência de boom
direcional, o que nos obrigou a sermos criativos pra superar a nossa
precariedade e tirar o melhor proveito dela. Mas esta é a
nossa condição de latino-americano e da miséria das condições técnicas,
tirar leite de pedras tem sido a nossa contribuição ao cinema mundial,
vide a "estética da fome" e mais recentemente "a cosmética da miséria",
assim as dificuldades desta ordem não são a exceção e sim a regra.
ANA > Como as pessoas podem conseguir uma cópia do DVD?
Juliano < Mandando uma mensagem pro agoraeluta@yahoo.com.br
solicitando o filme (recebendo resposta com as instruções para
pagamento) ou carta pra Caixa Postal 10062, Cep 88062-970, Yjureré
Mirim/SC, com um real e noventa e nove cnetavos (coloquem dentro de um papel
carbono), que cubra os custos do DVD e do envio postal. Foda-se a
propriedade intelectual, é mais um roubo como diria Proudhon, talvez
tenhamos problemas com a Ancine e a Programadora Brasil. (risos) Mas
acreditamos que os filmes existem para serem vistos. Creio que o
Existe... é um bom ponto de partida pra reunir os amigo/as, vizinho/as e
conhecido/as da comunidade e discutir o que fazer frente a mais este
circo eleitoral que se aproxima. Assim podemos coletivamente desmascarar
esta farsa que ganham os de sempre a partir da fala do próprio Ceará no
vídeo: "pra se vencer uma eleição só é preciso duas coisas, muito
dinheiro e muita mentira". E finalmente tomar-nos nosso destinos em
nossas mãos, como mostram outros exemplos pelo mundo. Mais recentes como
a Outra Campanha e a Comuna de Oaxaca no México, o movimento popular
argentino "Fora todos que não reste nem um só", a mobilização Boliviana
pela água-gás ou menos recentes como as coletivizações na Espanha, os
marinheiros em Kronstant , Makno e a Golai Polei, as Comunas de Paris e
as barricadas do desejo do 68, e tantas outras experiências de
autogestão social com democracia direta. Que evidenciam a ineficácia,
ineficiência e incompletude dessa dita democracia que estamos vivendo.
ANA > Quer acrescentar mais alguma coisa?
Juliano < Gostaria
de me solidarizar publicamente com você Moésio que tem sido ameaçado
pelo essencial trabalho com o coletivo da ANA, por esta corja de ditas
autoridades institucionais e seus asseclas na Prefeitura de Cubatão,
representando um dos braços do Estado dito de "direito", que não se
lembra do direito essencial de liberdade de expressão que o sustenta.
Apoio Mútuo e Solidariedade Ativa serão sempre marcas libertárias,
garantiram e garantem a nossa existência social por isso: Paz entre nós e
guerra aos Senhores! E o melhor protesto que podemos dar a esse Estado é
a nossa resposta nas urnas. Felizmente estamos voltando a um tempo em
que as idéias tornam-se perigosas. Cabe ressaltar que ultimamente muitas
outras esferas dos aparelhos do Estado tem se dedicado a perseguir as
idéias libertárias e seus difusores. E se está incomodando é por que tem
sido eficiente, conjuntamente aos esforços de outros grupos e
individualidades libertárias, autônomos e de contra-informação
antagonistas com seus trabalhos em diferentes campos nos têm permitido
ver além... do que o capital nos quer obrigar a ver. E
lembrando Jean-Luc Godard, para mim um grande anarquista da linguagem
cinematográfica, no seu Histórias do Cinema, diz que a natureza é
superior a arte, que o lugar de toda criação é o homem (não nenhum
partido ou classe social) e que o homem (um criador criado) tem em seu
próprio coração lugares que não existem... Juntando a Durruti que diz
que nós, anarquistas, trazemos um mundo novo em nossos corações e ele
vem crescendo... Só posso desejar à todos/as: Luz, Câmera... Anarquia! Avante o/as que lutam! E um grande AXÉ!
Vento traiçoeiro
Passou pela minha mente
Varreu os meus sonhos
Tony Marques
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http://www.antrocine.blogspot.com.br/2013/04/somos-as-imagens-que-vemos.html
Amanhã, dia 23, as 20h a Cinemateca de São Paulo exibirá o filme Libertários de Lauro Escorel Filho. O filme foi restaurado recentemente pela Cinemateca e esta será a primeira exibição pública do filme restaurado.
ResponderExcluirMais informações em:
http://www.cinemateca.gov.br/programacao.php?id=233