A mulher do cineasta foi internada em estado gravíssimo no Hospital Municipal Miguel Couto. O filho, que supostamente sofre de esquizofrenia, também foi levado para lá, com ferimentos menos graves.
O corpo do cineasta foi levado para o Instituto Médico Legal. A Divisão de Homicídios assumiu as investigações. O delegado responsável pelo caso estava no hospital por volta das 15h45 para colher o depoimento de Daniel.
Coutinho era considerado um dos maiores documentaristas do Brasil. Entre seus trabalhos de maior destaque estão Cabra Marcado para Morrer, Edifício Master, Jogo de Cena e Babilônia 2000. Em 2007, o cineasta ganhou um Kikito de Cristal, principal premiação do cinema brasileiro, pelo conjunto da obra.
Que a terra lhe seja leve!!
Que triste... Três grandes perdas para o cinema hoje Coutinho, Philip Seymour Hoffman e Maximilian Schell.
ResponderExcluirFigura central do documentário latino-americano, Eduardo Coutinho (São Paulo, 1933) balança-se sobre o balanço gramatical do “portunhol” e se apresenta como um homem “sem biografia”. A afirmação é feita com voz impetuosa quando, na esteira de seu último filme, As Canções, sugerem a ele que faça o mesmo que os homens e mulheres que desfilam pelo seu filme, que cante e evoque a história da música de sua vida. “Não só canto muito mau como eu te falo a partir do vazio, não tenho memória, não tenho palavras…”, ruge Coutinho, do outro lado do telefone, para, segundos depois, abrir a fenda pela qual entrará todo o vendaval de uma poderosa personalidade que reivindica a beleza e a sabedoria do homem comum: “Se quer que eu te diga, minha canção seria uma canção barata e vulgar, porque gosto do vulgar. Encontro algo muito bonito no brega, sou um homem sem preconceitos sobre a cultura de massas. Pelo contrário”.
ResponderExcluir“Abandonei a ficção pelo documentário para livrar-me de mim mesmo. Era a única possibilidade de esquecer minha própria história: falar da dos outros”, explica sobre o salto que deu há décadas para deixar as margens que o afastavam dos focos necessários para poder buscar a si mesmo. “O documentário foi, é e será sempre cinema marginal. E além disso não tenho nem a esperança nem o convencimento de que em algum dia deixe essas margens. Mas direi mais: para mim, o documentário tem um atrativo que jamais terá a ficção: não vive de ilusões”.
Eduardo Coutinho, ontem em Pamplona. / Txisti
De Cabra marcado para morrer (1962-1984), filme chave sobre a ditadura brasileira, à citada As Canções (2010), a filmografia de Coutinho é um espectro do cinema político, “mas não militante” que se afasta dos postulados do Cinema Novo. “Convencer aos convencidos não vale absolutamente para nada. Gosto do indeterminado, do que não tem uma intenção declarada, onde cada um pode decidir o que diz a cada filme”.
Filmes que se safam de qualquer retórica e nos quais há uma postura ética em frente à beleza. “A beleza tradicional, harmônica, não me interessa, porque eu quero fazer arte imperfeito e humilde, baseada nas sobras, no detritos, no lixo, nos fragmentos da vida”.
Em seu cinema, no qual a palavra é imagem, pulsa a vida de pessoas comuns transmitida através de seus depoimentos. “Interessa-me a palavra porque, como dizia Walter Benjamin, o passado narrado é mais forte que o passado vivido. Além disso, falamos com a cara e com o corpo. E nossa maneira de falar ante a câmera é única e não se repete. Brasil é um país com milhões de analfabetos totais ou funcionais, por esta razão há milhares de pessoas que não se corromperam nem com a televisão nem com quase nada, milhares de pessoas que se expressam como antes. E isso nos oferece uma enorme riqueza na linguagem oral que a mim me interessa muito recolher”.
Apesar de ter-se formado na equipe televisiva de Globo Repórter —famoso programa de reportagens que lhe permitiu documentar em profundidade e apesar da censura importantes assuntos do Brasil contemporâneo—, Coutinho “detesta” o jornalismo. “Fiz durante anos e me cansou. O jornalismo pode ser bom ou mau, mas no Brasil é, em geral, muito mau. O jornalista tem a obrigação de buscar os dois lados, mas eu só estou interessado em um. Eu faço cinema sobre as pessoas que não saem no Google, que falam de sentimentos. Interessa-me algo tão difuso como a sabedoria popular”.
Escutar sem julgar para chegar, explica, a um pacto com as pessoas cujas ideias reflete: “Eu aceito a palavra do outro como minha e eles, quando veem o filme, aceitam minhas palavras como suas”.
Jogo de verdades e mentiras, o cinema de Coutinho bebe do teatro em sua relação com o espaço e o coloca em cena. “Quando eu comecei, faz 50 ou 40 anos, queria fazer teatro, ser ator. Mas era tímido e a vergonha me separou dessa vocação. A vida é teatro, ou sonho, como dizia Calderón, e eu quero que essa relação efêmera de toda representação ocorra em meus filmes. Todos fazemos teatro a cada dia, seguimos com nossa cortina e nosso palco”.
Triste mesmo a morte do Coutinho. Na minha vida profissional ele sempre uma referência. Seja ainda na graduação em Jornalismo quando Consuelo Lins, nos apresentou o inesquecível "Boca de Lixo", seja depois na Antropologia em que suas obras sempre estiveram presentes nas discussões de Antropologia Visual e documentário, e também em minhas aulas. Sempre fiz questão de trazer sua obra pois era possível discutir tantos assuntos, das técnicas às poéticas. Coutinho fará falta. Tive a felicidade de escrevver sobre a obra dele e as possíveis relações com a Antropologia. http://www.cambiassu.ufma.br/cambi_2011/aurelio.pdf
ResponderExcluirMarco Aurélio
...)
ResponderExcluirEle tinha um filho psicótico e devia ter sua parcela de dor e seu quinhão de horror quando lembrava disso. Muitas famílias anônimas convivem com isso. A loucura não é algo tão distante de nós assim. Basta consultar seus sonhos, atos falhos e lapsos. Só estamos autorizados a falar da loucura dessa maneira. Isso pode acontecer e acontece desde que o mundo é mundo. O crime, o ruído, esse terrível que emerge repentinamente é algo que nos espreita sempre e talvez seja bastante humana essa possibilidade. É ela que nos faz advertidos do impossível de uma pedagogia para o ser humano. Portanto, ele não errou. A vida não é um jogo de erros e acertos óbvios e controláveis - não é uma linha reta, uma planilha onde você vai cumprindo metas pedagógicas e ortopédicas. Um filho vai surgindo a partir de uma imensidão de coisas também insondáveis e que, algumas vezes, fogem ao nosso controle. Não se pode prever nada sobre a maternidade e a paternidade e sobre qual terreno um filho vai se ancorar ou se perder.
E não, o filho de Eduardo Coutinho não é um monstro - é humano e com tudo aquilo de "demasiadamente humano" que cabe nessa humanidade. E certamente sobre essa humanidade que não se apresenta óbvia e anódina, Eduardo Coutinho muito nos ensinou. Uma humanidade que é, essencialmente, risco e aposta.
[Bia Dias]
quem tateia uma "loucura" são os familiares dos casos graves q se defrontam com eles diariamente, com todas as dores q vem junto... a loucura ainda é 1 mistério, hã?!??
ferreira gullar, pai d 2 filhos esquizofrênicos, em 'internação':
Ele entrava em surto
E o pai o levava de
carro para
a clínica
ali no Humaitá numa
tarde atravessada
de brisas e
falou
(depois de meses
trancado no
fundo escuro de
sua alma)
pai,
o vento no rosto
é sonho, sabia?
"o vento no rosto é sonho"... e não é isso mesmo?!?? quem nos sonha e dói na gente?? a dor mental, q se transmite sem se gastar, q se agarra... como ajudar??
Cássio Mattar
Prezados colegas pesquisadores:
ResponderExcluirInformamos que o livro Eduardo Coutinho em Narrativas, iniciativa do Grupo de Pesquisa em Narrativas Midiáticas (Universidade de Sorocaba), foi oficialmente lançado no X Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Cultura (EPECOM).
Organizado por Miriam Cris Carlos, Monica Martinez e Diogo Azoubel, o e-book tem a diagramação de Luiz Guilherme Leite Amaral e a revisão de João Paulo Hergesel. Textos de Jurani O. Clementino, Ana Carolina Cernicchiaro, Erica Domingues e Tarcyanie Cajueiro, Pedro Felipe Moura de Araújo, Míriam Cristina Carlos Silva, Monica Martinez e Tadeu Rodrigues, Roberto Abib Ferreira Júnior, Thales Vilela Lelo, Diogo Azoubel, Diego Baraldi de Lima, Felipe Diniz, Gabriela Machado Ramos de Almeida e Augusto Ramos Bozzetti, Laécio Ricardo de Aquino Rodrigues, Thífani Postali, Diogo Azoubel e Maria Thereza Soares, Cristiane da Silveira Lima e Greici Audibert e Ilka Goldschmidt.
A obra está disponível para download gratuito em: http://comunicacaoecultura.uniso.br/publicacoes/.
Envio o material também anexo.
Obrigado pela colaboração de todos!
Cordialmente,
JOÃO PAULO HERGESEL