Filme/Convocatória editado por companheiros e companheiras do Sindicato em Ofícios Vários de Salamanca (CNT-AIT) com alusao ao 1º de Maio de 2013:
Os Mártires de Chicago Os condenados de Haymarket: Louis Lingg, Oscar Neebe, Adolph Fisher, August Spies, Albert Parsons, Michael Schwab, George Engel e Samuel Fielden. Todos condenados à morte e assassinados pelo Estado a 11 de novembro de 1887, excepto Neebe (15 anos de prisão), Fielden e Schwab (condenados a cadeia perpétua).
Mauricio Basterra *
“Para a frente com valentia! O conflito começou. Um exército de trabalhadores assalariados está sem ocupação. O capitalismo esconde as suas garras de tigre atrás das muralhas da ordem. Operários, que a vossa palavra de ordem seja: Não ao compromisso! Cobardes à retaguarda! Homens à frente!”
Com estas palavras preparava August
Spies a greve do Primeiro de Maio em Chicago nas páginas do jornal
Arbeiter Zeitung. Nada fazia supor a Spies que aquela jornada ia ficar,
por tudo o que originou, na história do movimento operário. A
reivindicação das oito horas de trabalho era o eixo fundamental daquela
greve em 1886.
E, de facto, a reivindicação para a
diminuição da jornada de trabalho tinha as suas raízes bem fundas nas
próprias origens do movimento operário. As longas jornadas de trabalho a
que os trabalhadores estavam sujeitos punham como primeiro ponto da
agenda reivindicativa a diminuição das horas de trabalho, que em muitos
casos atingia as 12-14 horas diárias. Sem nenhum tipo de segurança
social e com umas condições de vida miseráveis.
Curiosamente foram os Estados Unidos um
dos primeiros países a introduzirem leis de redução da jornada laboral.
Em 1840 a administração de Martín van Buren reconheceu a jornada de 10
horas para os empregados do governo e dos construtores navais. Em 1842
Massachusetts e Connecticut reduziram a jornada de trabalho infantil
para 10 horas. Por seu lado, o Reino Unido reduziu em 1884 o trabalho
infantil a 7 horas e o dos adultos a 10 horas. E assim foi sucedendo em
distintos estados norte-americanos e na Europa. Sempre com reformas
parciais e em sectores concretos.
Isso fez com que se concluísse que apenas
uma acção organizada podia trazer melhorias mais profundas para a
classe operária. Em 1864 era fundada em Londres a Associação
Internacional dos Trabalhadores (AIT) e em 1886, no Congresso de
Genebra, ficou decidido que as secções integrantes da AIT iriam lutar
pelas oito horas de trabalho. Oito horas de trabalho, Oito horas de
descanso e Oito horas de lazer. Esse era o lema do movimento operário
internacional.
O amplo poder de implantação que a AIT
teve e os ecos revolucionários que chegavam da Europa, fez que em 1868 o
presidente norte-americano Andrew Johnson aprovasse a Lei Ingersoll,
que estabelecia a jornada de oito horas de trabalho para os empregados
federais.
Apesar do desaparecimento da AIT o
movimento operário continuou a reivindicar melhorias para a classe
operária. Numerosas greves se sucedem, por todo o mundo, algumas delas
conseguindo grandes vantagens para os trabalhadores. Por exemplo, a
greve dos caminhos de ferro de Massachusetts de 1874 conquistou as 10
horas de trabalho.
Mas os trabalhadores que integravam o
movimento operário norte-americano estavam conscientes de que sem uma
organização que unisse os trabalhadores seria muito difícil conquistar
direitos generalizados e básicos para a classe operária. Por isso nasceu
em 1881 em Pittsburgh a Federação Norte Americana do Trabalho (AFL). No
seu IV Congresso, em Chicago, a organização decidiu realizar uma grande
greve geral que reivindicasse as 8 horas de trabalho, seguindo a
tradição iniciada pela AIT. Reivindicação que contou também com o apoio
de outras organizações como os “Cavaleiros do Trabalho” ou distintas
federações e associações operárias norte-americanas.
Foi constituído um Comité pelas Oito
Horas de Trabalho e a greve foi marcada para o Primeiro de Maio de 1886.
A greve resultou num êxito muito grande para o sindicalismo
norte-americano. A situação de miséria em que viviam os trabalhadores
era reconhecida inclusivamente pelos próprios governos e o presidente
Grover Cleveland disse: “As condições actuais das relações entre o
capital e o trabalho são, na verdade, muito pouco satisfatórias, e isto,
em grande medida, pelas ávidas e impensadas imposições dos
empregadores”. A convocatória da greve foi um êxito e houve mais de 5
mil greves convocadas. Em muitos lugares as oito horas de trabalho foram
conquistadas (Chicago, Boston, Pittsburgh, Saint Louis, Washington,
etc.) . Em muitos outros locais, ao nível de fábrica ou sectorial.
Esta força do movimento operário, animado
principalmente pelos anarquistas, pôs em alerta o patronato
norte-americano que não tardou em reagir. Nas sucessivas manifestações
posteriores ao Primeiro de Maio os patrões lançaram contra os grevistas
fura-greves e amarelos, sobretudo contra os operários da fábrica
McCormik. O pior aconteceu a 4 de Maio, em Haymarket Square quando
explodiram várias bombas, numa altura em que estavam reunidas 15000
pessoas.
Morreram 38 operários, 115 ficaram
feridos, um polícia morreu e 70 ficaram feitos. A imprensa, aliada aos
patrões, não teve duvidas em apontar desde o primeiro momento os
anarquistas como autores do atentado. As perseguições contra anarquistas
iniciadas pelo comissário Michael Schaack não se fizeram esperar. Entre
os presos e acusados de assassinato estavam os animadores mais
entusiastas do movimento operário. Todos anarquistas. Os nomes de
August Spies, Michael Schwab, Oscar Neebe, Adolf Fischer, Louis Lingg,
George Engel, Samuel Fielden e Albert Parsons passaram a ser notícia de
primeira página.
Todo o processo que se montou contra eles
esteve cheio de irregularidades. O juiz Joseph E. Gary, um reaccionário
confesso, escolheu os jurados de entre pessoas com influência
claramente anti-socialista e anti-anarquista. Não se permitiu que
houvesse jurados que pudessem ter simpatias pelas ideologias operárias. A
sorte dos acusados estava ditada de antemão. A 11 de Novembro de 1887
era executada a sentença contra os condenados à morte. Spies, Parsons,
Fischer e Engel foram enforcados. Lingg suicidou-se no dia anterior. Os
outros acusados sofreram nas prisões durante vários anos. Para a memória
ficaram os discursos que os acusados proferiram no tribunal. A defesa
que fizeram da sua inocência e dos seus ideais. Foram executados por
serem anarquistas e socialistas. A caminho do patíbulo continuaram a dar
vivas à anarquia e à classe operária. Cantaram a Marselhesa, na altura o
hino revolucionário por excelência.
A inocência dos acusados era manifesta.
Estava-se no início da guerra suja contra o movimento operário. Alguns
dos investigadores dos acontecimento de Chicago estavam ligados a
organizações como a Agência de Detectives Pinkerton, que actuou como
fura-greves e se infiltrou no movimento operário com o beneplácito dos
patrões e do governo norte-americano.
De qualquer modo, para o movimento
operário internacional, a data do Primeiro de Maio converteu-se num dia
de comemoração para recordar os “Mártires de Chicago” e para reivindicar
a jornada de oito horas de trabalho. A segunda Internacional
estabeleceu-o como dia internacional de luta e o movimento anarquista
transformou-o numa das datas de reivindicação operária e de comemoração
ao lado do 18 de Março (aniversário da Comuna de Paris) e o 11 de
Novembro (execução dos Mártires de Chicago).
Ainda assim a nível internacional as diferenças sobre como atuar face ao Primeiro de Maio distanciou socialistas e anarquistas.
Enquanto os primeiros, cada vez mais
integrados nas instituições, foram convertendo o Primeiro de Maio numa
data quase festiva, com manifestações de força e entrega de
reivindicações às autoridades, os anarquistas consideravam-no um dia de
luta e com razões para que fosse convocada uma greve geral que
pressionasse as autoridades a aprovarem a jornada das oito horas de
trabalho.
Hoje, mais do que nunca, convém recordar
as origens do Primeiro de Maio e como os direitos que hoje se perdem
custaram esforço e vidas para serem obtidos.
Na atualidade, o seu exemplo é a nossa melhor lição.
(* publicado em “CNT”, nº 399, Abril/2013)
Nós estamos enfrentando uma das maiores ofensivas contra os direitos e as
condições de vida da classe trabalhadora. Isso nos tem levado, ha
alguns anos, a uma situação de crise permanente que serve de
justificativa para todo tipo de agressões e cortes de direitos.
Rompamos com seu jogo. À Construir a alternativa. 1º de Mayo 2013 - Manifestación en Zaragoza - Plaza San Miguel 12'00h. - Espanha
Rompamos com seu jogo. À Construir a alternativa. 1º de Mayo 2013 - Manifestación en Zaragoza - Plaza San Miguel 12'00h. - Espanha
Não comemoramos a escravatura do trabalho. Trabalhamos para combater a escravatura.
1º de Maio é luta e auto-organização // Pela liberdade, pela autonomia
Comemorar o trabalho é hoje mentires-te a
ti próprio. Ele é hoje escravatura declarada e como se não bastasse vem
acompanhado de violentas baixas de salários, perdas de direitos e
degradação fulminante das condições em que o fazemos. Embora seja cada
vez mais comum assistirmos a protestos nas ruas em resposta a esta
situação e a tantas outras, é também mais perigoso fazê-lo pois o Estado
e as entidades patronais estão à espreita para te lançarem a mão mal
abras a boca.
Os tempos que vivemos são incertos mas ao
mesmo tempo ajudam-nos a ver as verdadeiras facetas do poder. A
degradação de todos os aspectos da vida levam muitos ao desespero e
daqui para a frente sabemos que as condições dessa mesma vida vão
piorar. O Estado social, grande conquista do séc.XX, torna-se o grande
falhanço do séc XXI. Os banqueiros, quais sanguessugas, levam a cabo um
saque generalizado à sociedade. Os políticos, sujeitos a um descrédito
total nas ruas continuam a inventar reformas, a pedir mais impostos.
Os partidos e os sindicatos,
comprometidos com a sua profunda vontade de tornar os protestos sociais
em marchas fúnebres esperneiam perante a facilidade com que o seu poder é
posto em causa nas ruas. A história deste tempo pode ser imensa mas
arriscamos um resumo: A democracia e o capitalismo, sonhos perdidos de
uma revolução de canos entupidos, é hoje uma anedota que insiste em não
admitir a falência do seu modelo económico, social e politico. Perante
isto, e na eminência de uma falência generalizada, emerge o fascismo
mascarado de economia patente nas medidas da tróika, no aumento do
controlo social, no armamento da policia, na perseguição a quem protesta
ou na obrigação de mais horas de trabalho por menos dinheiro.
O sistema quer, a todo o custo, manter-se
activo e lixar-nos a vida. Portanto, ansiamos por outra forma de viver.
A grande chantagem a que todos estamos sujeitos (trabalhar ou morrer de
fome) dá-nos mais razões para procurar formas de construir um mundo sem
explorados nem exploradores. Queremos construí-lo com todos os que
estiverem dispostos a lutar por uma vida digna, sem partidos a
controlarem-nos a revolta e a vontade de ser livres. Estamos fartos das
suas lenga-lengas que soam sempre a mentiras para que se morda mais uma
vez o rabo da pescada. Queremos trabalhar, mas não para levar o planeta à
sua destruição, queremos trabalhar para livrar os nossos filhos da
miséria crescente que está à nossa frente todos os dias!
Queremos trabalhar para nós mesmos, para os nossos amigos, família,
bairro, cidade.. e mais que isso para destruir o conceito de trabalho
que nos impingem. Hoje, mais que nunca, os tempos são frutíferos para
muitas coisas diferentes. Atacar esta ordem e este sistema leva-nos a
experimentar como viver sem eles.
No 1ª de Maio apelamos a uma mobilização
pelas ruas de Setúbal em protesto não só contra a violência dos patrões
mas contra a violência do Estado, da economia e das forças da autoridade
que os defendem. Queremos lembrar-lhes que existe resistência.
Propomos também uma assembleia popular com microfone aberto onde
publicamente possam surgir propostas de luta e de acção.
1º de Maio * 15 horas * Manifestação Anti-Capitalista * Anti-Autoritária
Largo da Misericórdia, Setúbal - Portugal
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